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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Parada


Eu vivo no banheiro da estação molhando a nuca quando está calor. No meio de centenas de esperas que não são minhas mas me esquentam. A moça que vende bilhetes é minha mãe. O cara da catraca meu amor. Sempre muda o cara da catraca. Mas eles se parecem justamente porque sempre mudam e porque são apenas o cara da catraca. Meu pai vende coisas coloridas de brincar e de sujar a língua aqui em frente e as crianças se distraem e sobrevivem. Meus amigos são os do vagão de antes e de depois. Os mais amigos, agora, são sempre os que acabaram de chegar. Tem gente feia, gente bonita, gente assustada, gente com sono, gente no meio de gente. Eu só olho e tento tocar nessas sensações, mas nunca sou exatamente nenhuma delas porque há muitos anos eu não tinha tamanho para ser e assim acostumei.
Eu olho sempre pro relógio gigante que fica bem no centro do meu quarto. E sei que todo dia ele passa, sempre às cinco da tarde. O trem pra sempre. Eu corro junto, ao lado, por um tempo, mas canso já morrendo de rir. E fico feliz que não foi dessa vez. E fico feliz de ter chegado perto. Já senti como é o cheiro de dentro. Já experimentei sentar na janelinha com ele parado. Já me imaginei embaixo, esmagada. Em cima, surfando antes de pegar fogo. Sei todos os ângulos de ir, mas vivo no lugar de quem fica.
Estou na estação há tanto tempo. E sempre tem gente chegando e indo. E sempre tem amor e bala e dinheiro e cama e água e fins de tarde bonitos e brinquedos e catracas com a segurança de uma novidade de sempre. Em alguns momentos fica o equilíbrio terrível de nunca ir. Fica a dor terrível de todo mundo que foi. Fica a ansiedade terrível de todo mundo que tem pra chegar. Agora. Agora. A cada volta de uma piscada eu tenho minha esperança renovada. Mas nenhum desses silêncios chega perto do som que é viver ouvindo o mundo se locomovendo enquanto só tento enxergar de olhos bem abertos sem me mexer. Estar no centro do barulho nunca foi realmente uma solidão. A troca é tão bonita porque sorrio achando todos tão corajosos com seus ternos e pastas e pressas e chegadas e “que mais”. E eles sorriem de volta, me achando corajosa também em ficar. E só olhar. E poder amar esse trecho de vida deles ainda mais do que eles próprios que nem se percebem em trechos.
Eu vivo na estação porque peguei carinho pelas placas e sujeiras e as faxineiras cedinho tirando os estragos do mundo na minha casa de passagem. Acho tão bonita a sensação de estar no único lugar onde se pode estar com todos e esperar por mais um trecho de todos. Sei que não escolho nada, não sigo com ninguém, não conheço outras idades e lugares e gastrites e ventos.
Eu sou uma estação, é isso. Assim não dói além porque eu sei, desde o começo, que sou passagem. Então, vão, mas logo apita de novo. E é sempre movimentado, mesmo quando apagam as luzes e a vida dos outros descansam da minha parada. Existe o movimento que fica atrasado no ar e durmo embalada por tanta coisa que quase parece coragem.
Até que hoje, não sei se porque enjoei dessa casa da infância, não sei se porque às vezes o amor é mesmo mais forte que mil anos de segurança. Eu pisei tremendo na escada e o homem da catraca era tão diferente de todo mundo e, pela primeira vez, as placas e mulheres do caixa e bilhetes e pessoas e brinquedos coloridos e apitos e fins de tarde e moças da limpeza. Ninguém tentou me agarrar porque era como se o mundo dissesse “acho que são cinco da tarde e uma hora você precisa ser mulher”. E eu pedi socorro. Eu não sei sair daqui mas quero ir com você. Eu tenho cinco anos de idade mas quero ir com você. Tudo me dói tanto e eu tenho tanto medo mas tudo bem, vamos lá. Na próxima parada só me lembra que é bom eu fazer xixi e comer alguma coisa porque tô te achando tão bonito que talvez eu esqueça.

Tati Bernardi
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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Felicidade momentania

Tenho me sentido legal. Esqueci os problemas, meu novos amigos me fazem rir, alguns não são nem tão novos assim, mas a amizade é nova. Minha música preferida é daquelas dançantes, que não deixam a tristeza invadir.
Os filmes e as series que assisto são tão divertidas. Tenho até contado coisas banais à minha mãe.
A vida está se ajeitando, assim, devargarzinho, como um flor que desabrocha depois de uma noite de tempestade.
Me despi dos medos de outrora, resolvi confiar na vida, no destino, em Deus.
Criei coragem de por a cara á tapa de novo. Parei de machucar os outros por prazer. Deixei de dizer verdades desnecessárias, até pensei antes de falar, esses dias.
Abracei o frio, convidei-o à entrar. Sorri pros pingos de chuva. Olhei no espelho e não briguei com meus cabelos. Deixei de lado o batom rosa grape e tenho passado só um brilho nos lábios. Tenho me permitido até sorrir para estranhos.
O coração até bate forte quando vê uma foto dele, mas eu to tentando aceitar o sentimento, deixar ele me  inundar e quem sabe, percebendo que não tem mais resistência, ele vá embora, sem machucar mais.
Tenho vestido o uniforme do colégio e arrumado os materiais com um certo prazer, tirando os dias em que a matemática insiste em aparecer.
Às vezes, enquanto limpo a casa, ligo o som bem alto e finjo que a vassoura é um microfone, é coisa de criança, eu sei, mas ultimamente eu tenho me permitido ser criança.
Tenho sido feliz, sei que talvez isso não dure, mas estar tendo dias assim me renova a vontade de viver, de batalhar, de sonhar, de acreditar e quem sabe um dia até amar de novo.

Pricila Langner Ramos
26-04-2010
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sábado, 24 de abril de 2010

Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente quer dizer?
Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias. Mas confuso, perdido, sozinho, minha única certeza é que de cada vez aumenta ainda mais minha necessidade de ti. Torna-se desesperada, urgente. Eu já não sei o que faço. Não sinto nenhuma alegria além de ti.
Como pude cair assim nesse fundo poço? Quando foi que me desequilibrei? Não quero me afogar: Quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara.


( Extraído do livro Caio Fernando Abreu-  Caio 3D, O Essencial da Década de 1980, p.186)
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sábado, 17 de abril de 2010

Um ultimo texto sobre aqueles amigos

Leia e perceba se é você ou não.
Sim, foi com você que eu ri pelas maiores besteiras ou por aquele comentário sem graça, ou por aquela menina ridícula ou por um fato qualquer. Porém, foi com você também que chorei minhas frustrações amorosas e jurei mil vezes esquece-lo. Talvez foi você que, com os dedos quentes, limpou minhas lágrimas e disse que ele não valia a maquiagem borrada.
Será que foi para você que emprestei meus livros preferidos? Foi você que dormiu do meu lado e segurou a minha mão? Foi pra você que contei meus segredos mais sórdidos e meus sonhos mais bobos?
Foi você que eu chamei de melhor amiga e fiz planos para faculdade, morar junto e ter dois cachorros? Você se lembra dos nome? Eu me lembro.
Eu sempre me lembro, fui eu sempre quem se lembrou e fui eu sempre que se decepcionou.
Já enfrentei desconfiança, falsidade, mentira, desleixo, total esquecimento.
As vezes, enquanto choro a noite, eu penso se não mereço algo bom. Um amor tranquilo ou uma melhor amiga eterna.
Já começo a questionar se o problema não sou eu, se eu não sou frágil demais, vulnerável ao extremo.
Mas dessa vez, vou aprender a enxugar minhas próprias lágrimas, à ter as mãos livres e os flancos vazios. Irei aprender a andar só e a me sentir completa com isso. Vou me concentrar em objetivos e correr para alcança-los, manterei minha mente ocupada para que não sofra com a solidão. Serei melhor, pintarei um sorriso no rosto e implantarei um brilho no olhar.
Ao me ver você vai pensar que sou feliz, mas não posso prometer que, naqueles segundos que antecedem a anestesia do sono, eu não banhe meu travesseiro com salgadas lágrimas.

Pricila Langner Ramos
17-04-2010
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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mais que cansaço


Essas olheiras fundas são reflexos de noites mal dormidas e livros devorados madrugada à dentro, tudo isso para deixar a mente exausta a ponto de não pensar nos problemas e na tamanha falta de sorte que tenho em tudo. Essas cicatrizes nos braços, são dos momentos em que tente que a dor física superasse a emocional. Essas marcas em minhas mãos foram causadas pelo terço em que dormi agarrada, pedindo à um Deus, em quem aos poucos deixo de acreditar, que me abra caminhos ou que pelo menos, amenize minha dor.


Pricila Langner Ramos
16-04-2010
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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Melhores amigos?


Um dia você descobre que amor mesmo, só de pai e mãe.
Amigos? São pessoas em quem você confia, mas a maioria deles não se importa. Aqueles que você mais conta segredos, aperta a mão em horas de dor, são os que menos se importam. Te tratam como se você não precisasse saber. Não se iluda garoto, eles nunca irão ser o que você pensa, eles sempre te decepcionaram, mesmo aqueles que você mais amava. Isso mesmo, amava. Pretérito nem um pouco perfeito. Mas é óbvio que vai doer, é como se mais uma vez tirassem um pedaço de teu coração. Ah meu coração, acho que já nem resta nada dele, de tantos pedaços que já foram tirados.

14-04-2010, orkut só serve para você descobrir o que faz seu coração doer

Pricila Langner Ramos
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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mais um texto, só mais um

A vida não é fácil, nunca foi. Mas parece que aos poucos, a medida que os anos passam e você acha que aprende, tudo se torna mais difícil. Você passa a ser mais exigente.Não quer mais amores simples, beijos mornos ou mãos pudicas. As notas nove e meio já não são o bastante. Chegar à meia noite é coisa de Cinderela.
Mas ao seu redor, tudo muda também . Suas escolhas já não afetam somente você, suas responsabilidades podem mudar vidas alheias. Agora você pode chegar as cinco da manhã, mas lembre-se garota que amanhã é segunda-feira e você tem que levantar de acordo com os horários dos outros.
Você pode desejar o que e quem quiser. Mas cuidado menina, seus desejos podem ser perigosos! Eles podem te levar a um mundo obscuro onde sonhos tornam-se pesadelos e príncipes são trolls com sorrisos bonitos.
Seguir caminhos que já foram percorridos já não tem mais graça, mas criar uma trilha nova, por lugares virgens pode ser uma aventura sem volta.
Você chega a um estágio onde ou você vai ser você pra sempre ou resolve mudar pra sempre. E não vai ser pintando o cabelo de verde, usando meia arrastão e delineador pink que você vai mudar quem é. Chega um momento em que você perde algo que quis por muito tempo, só ai você percebe que ser você não basta, é preciso ir além.
É importante, para se auto-afirmar, romper barreiras, partir corações e arrasar em pistas de dança.Você sente necessidade de passar um batom vermelho e olhar pra alguém fixamente, sem desviar o olhar, sem fazer gesto nenhum. Começa a ter vontade de ler um livro novo, escutar 'Garota Nacional' e dançar na frente do espelho sem ninguém olhando. Você vai chorar sem motivo aparente, apagar fotos velhas do orkut e deletar contatos do msn. Isso, tecnicamente, não muda quem você é, mas na essência, faz você perceber que pode mudar, que pode ser alguém melhor.
Ai vem a parte mais difícil, é preciso tomara decisão e isso é uma coisa que só você pode fazer.
E ai, o que você vai decidir?


Pricila Langner Ramos
12-04-2010
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A primeira vez



Você sempre me disse que sua maior mágoa era eu nunca ter escrito um texto sobre você. Nem que fosse te xingando, te expondo. Qualquer coisa.
Você sempre foi o único homem que me amou. E eu nunca te escrevi nem uma frase num papelzinho amassado.
Você sempre foi o único amigo que entendeu essa minha vontade de abraçar o mundo quando chega a madrugada. E o único que sempre entendeu também, depois, eu dormir meio chorando porque é impossível abraçar sequer alguém, o que dirá o mundo.
Outro dia eu encontrei um diário meu, de 99, e lá estava escrito “hoje eu larguei meu namorado sentado e dancei com ele no baile de formatura”. Ele, no caso, é você. Dei risada e lembrei que em todos esses anos, mesmo eu nunca tendo escrito nenhum texto para você, eu por diversas vezes larguei vários namorados meus, sentados, e dancei com você. Porque você é meu melhor companheiro de dança, mesmo sendo tímido e desajeitado.
Depois encontrei uma foto em que você está com um daqueles óculos escuros espelhados de maconheiro. E eu de calça colorida daquelas “bailarina”. E nessa época você não gostava de mim porque eu era a bobinha da classe. Mas eu gostava de você porque você tinha pintas e eu achava isso super sexy. E eu me achei ridícula na foto mas senti uma coisa linda por dentro do peito.
Aí lembrei que alguns anos depois, quando eu já não era mais a bobinha da classe e sim uma estagiária metida a esperta que só namorava figurões (uns babacas na verdade), você viu algum charme nisso e me roubou um beijo. Fingindo que ia desmaiar. Foi ridículo. Mas foi menos ridículo do que aquela vez, ainda na faculdade, que eu invadi seu carro e te agarrei a força. Você saiu cantando pneu e ficou quase dois anos sem falar comigo.
Eu não sei porque exatamente você não mereceu um texto meu, quando me deu meu primeiro cd do Vinícius de Morais. Ou quando me deu aquele com historinhas de crianças para eu dormir feliz. Ou mesmo quando, já de saco cheio de eu ficar com você e com mais metade da cidade, você me deu aquele cartão postal da Amazônia com um tigre enrabando uma onça.
Também não sei porque eu não escrevi um texto quando você apareceu naquela festa brega, me viu dançando no canto da mesa, e me disse a frase mais linda que eu já ouvi na minha vida “eu sei que você não gosta de mim, mas deixa eu te olhar mesmo assim”.
Talvez eu devesse ter escrito um texto para você, quando eu te pedi a única coisa que não se pede a alguém que ama a gente “me faz companhia enquanto meu namorado está viajando?”. E você fez. E você me olhava de canto de olho, se perguntando porque raios fazia isso com você mesmo. Talvez porque mesmo sabendo que eu não amava você, você continuava querendo apenas me olhar. E eu me nutria disso. Me aproveitava. Sugava seu amor para sobreviver um pouco em meio a falta de amor que eu recebia de todas as outras pessoas que diziam estar comigo.
Depois você começou a namorar uma menina e deixou, finalmente, de gostar de mim. E eu podia ter escrito um texto para você. Claro que eu senti ciúmes e senti uma falta absurda de você. Mas ainda assim, eu deixei passar em branco. Nenhuma linha sequer sobre isso.
Depois eu também podia ter escrito sobre aquele dia que você me xingou até desopilar todos os cantos do seu fígado. Eu fiquei numa tristeza sem fim. Depois pensei que a gente só odeia quem a gente ama. E fiquei feliz. Pode me xingar quanto você quiser desde que isso signifique que você ainda gosta um pouquinho de mim.
Minhas piadas, meu jeito de falar, até meu jeito de dançar ou de andar. Tudo é você. Minha personalidade é você. Quando eu berro Strokes no carro ou quando eu faço uma amiga feliz com alguma ironia barata. Tudo é você. Quando eu coloco um brinco pequeno ao invés de um grande. Ou quando eu fico em casa feliz com as minhas coisinhas. Tudo é você. Eu sou mais você do que fui qualquer homem que passou pela minha vida. E eu sempre amei infinitamente mais a sua companhia do que qualquer companhia do mundo, mesmo eu nunca tendo demonstrado isso. E, ainda assim, nunca, nunquinha, eu escrevi sequer uma palavra sobre você.
Até hoje. Até essa manhã. Em que você, pela primeira vez, foi embora sem sentir nenhuma pena nisso. Foi a primeira vez, em todos esse anos, que você simplesmente foi embora. Como se eu fosse só mais uma coisa da sua vida cheia de coisas que não são ela. E que você usa para não sentir dor ou saudade. Foi a primeira vez que você deixou eu te olhar, mesmo você não gostando de mim.
E foi por isso, porque você deixou de ser o menino que me amava e passou a ser só mais um que me usa, que você, assim como todos os outros, mereceu um texto meu.
 Tati Bernardi
Esse texto me emocionou, não sei por quê, mas amei ele.
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segunda-feira, 5 de abril de 2010

...


Sinto falta dos tempo em que a solidão era confortável, que o vazio era esperado. Estou tão cansada de esperar que chova novamente, que as flores respirem e nasçam. Já não me restam mais esperanças, tudo parece tão inútil. Sinto que tudo dá certo para os outros e nada dá certo pra mim.
Às  vezes até penso em fugir, trocar de nome, esquecer essa Pricila e inventar uma pessoa nova, e fazer com que ela seja tudo que eu não fui, da melhor maneira possível.

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